Wednesday, November 30, 2005

A Felicidade e o Inverno Chamado Noite




A Felicidade e o Inverno Chamado Noite

Em Tempos que ainda não haviam sido, escutei uma conversa enquanto dormia, sussurro gritante entre dois astros, (discretos como não seria de esperar).
Uma estória de embalar a paciência em dia de senão.
A Felicidade, enchendo-se de Sol, saiu à Rua, lançando-se às Avenidas Velhas, numa noite escondida na luz.
Calcorreando os lugares do costume e tradição, inexistentes por sinal, de trânsito, irregular, lugares que sempre procurou e sempre desencontrou, notando que o seu minúsculo telemóvel estava desbaterizado, marcou ávida-mente os dois algarismos que sabia de cor: @ e &.
Ora por impossível que parecesse passava em hora de passeio, vestindo traje de passeio, e pisando docemente o passeio, o Inverno, bonacheirão desconhecido.
E foi este viajante iluminado da noite que respondeu à chamada, clicando numa pedra da calçada, descalça e desmiolada. Simpática como mais não. E sim.....!!!
Felicidade e Inverno são dois fieis amigos da natural indiferença construída, pudera concluir no início do pensamento.
Dos Tempos nem vivalma, rezavam as crónicas de jornais ainda por imprimir.
Dos Lugares nem os pombos, nem os chafarizes, nem as doces luzes de Janeiro, antecipação de iluminações de nações em natais-pais-pais.
(continua)

Nota do Redactor Infractor Não Aviador:
- "Tiny, não é possível ultrapassar os 1000 caracteres em terças 29 de meses ímpares. E já ia em 1009, uuup!"...

Saturday, November 26, 2005

DIÁRIO DE VIAGEM













Há viagens e viagens.
Reais e virtuais.
E as outras, as imaginadas.
Que não são virtuais.
Porque se realizam noutra dimensão.
Uma viagem, qualquer que seja a sua estrutura, pressupõe sempre uma partida, um destino e a parte mais interessante, a sua preparação. Que significa o quê? O desarrumar dos espaços. O tentar arrumar outros espaços mais diminutos, geralmente.
Nas reais vivemos dependentes de muitas variáveis, e em especial de uns paralelipípedos que não ganham dimensão por mais que se force, por mais que alimentados. E ainda podem beneficiar o infractor… uma multita por excesso … de coragem.
Nestas viagens imaginadas, a sua concretização não é mais relevante do que o sopro do vento.
O estado do tempo não importa.
Até ajuda o mau tempo. A invernia desgarrada.
Nas imaginadas os tempos não são problema, tanto viajamos em tempo real, como em escassos segundos.
As viagens imaginadas, são as mais marcantes, porque interiores. E muito mais económicas. Agente de viagens, transportador e viajante navegam no mesmo corpo.
Viajo ao sabor do vento, embalado pelo pensamento, acondicionado na superfície da razão.
Viajo com o tempo.

Monday, November 21, 2005

SOPRANO SUBLIME - ANA QUINTANS
















(noite de pétalas de chuva,
na voz doce de uma soprano,
Sublime gesto vocal,
Talento desmedido,
Encanto-me,
Desencontrado,
Procurando na gramática do Impossível,
A Felicidade,
e,
A Diva)

E A NOITE SEGUE...















Incólome, sem se molhar,
segue a noite,
colorindo os espaços...
de luzes impossíveis,
de sons repetitivos,
de cadências normalizadas.

Na noite,
quando os Anjos,

tristes, choram,
as sua gotas de chuva,

pétalas de bondade e saber,

As nuvens derretem,
não vão as montanhas tocá-las,
e encorporam flores.

Constroiem mundos,
os jardins que procuramos,
os jardins que dedicamos às crianças,
e às crianças em nós,
por nós,
onde vamos descansar o olhar,
onde vamos inventar a nossa alegria.

O Sol vem bater ao vidro da nossa vontade,
pancadinhas de chuva,
respira calor, e empresta-nos
um arco-iris, tecido a cor.

Friday, November 18, 2005

O GALEÃO DOS SONHOS





















Galleon of Dreams, Hong Kong, 1993

Que bom seria embarcar(mos) neste Galeão dos Sonhos.
Pretexto para um distanciamento da realidade circundante, boa, má ou assim assim...
Um trajecto em direcção ao futuro, a um tempo procurado, ambicionado.
Um voltar de uma página suave como o vento.
A viagem estacionaria num jardim, florido, até ao olhar doce da esperança. Onde o Sol e a Lua se entregassem a uma dança mágica, de sons e cores sem fim.

Thursday, November 17, 2005

PINTURA LUSO-VIETNAMITA

















Óleo s/ tela, pintado em Ho Chi Minh City em 1994
por Nguyen Quan e RP

Tuesday, November 15, 2005

A MADRUGADA DO LÁPIS DESAFIADOR


O Lápis des-afiador nunca foi bem visto. Porquê? Por isso mesmo.
Por ser dois em um. Era lápis, escrevia nas entrelinhas do non-sense e ao mesmo tempo era desafiador, matreiro, persistente no trato.
O afiador, por seu lado, pouco dado a conversas rodava sobre si mesmo sempre que era chamado a cumprir a sua arte. A Arte de Bem Afiar. Zzzzz...Até ficar tonto...

O lápis, esse, ainda se lembrava quando se passeava qual modelo de fábrica de escritas artesanais, penduricado numa orelha de algum merceeiro, latoeiro ou assim sucessivamente.
O afiador, rezam as crónicas, veio mais tarde a ser promovido, tapada a sua interioridade e convertido em cone para o arrumo de castanhas quentes. Já não havia jornais velhos para rasgar e envolver o fruto do Outono, que bem quentinho, dava para aquecer as mãos escondidas nos bolsos tal o frio.

Já não se lia...Do livro em papel de eucalipto, (mas sem efeitos anti-gripe), voara-se para a revista cor-de-rosa pálida. Somatório de aves de arribação, perdão de aves das ribaltas em poses meramente inteligentes.

Depois inventara-se a virtualidade do virtual...Do livro virtual passara-se ao tchá tchá tchá virtual, uma moda que consistia em rodopiar danças de salão em ecrans de computador. Tal a moda fora que se esgotaram os leques e abanicos que refrescavam damas e cavalheiros, pomposamente sentados em frente de paredes de plasma, pasme-se!

E , assombro, (!!), agora nem livros, nem livreiros, enfim acabara o eterno problema dos livros mal distribuídos. Já nem valia a pena ir às livrarias, objecto de culto, comprar três livros duma vez para aumentar vertiginosamente as estatísticas e levar editores a lançar de imediato 10 edições em simultâneo como se fazia em pleno século XX e mais ainda com a invenção dos faz-tudo, (personagens típicas de 2000 a 20010 que conseguiam, qual malabiristas de circo, falar-escrever-discursar-televisionar-cantar-modelar-papaguear-codificar-descodificar-entaramelar os outros-tudo-ao-mesmo-tempo!!!) já no XXI. Nem ir aos armazéns de livros colocar nas prateleiras da frente (dos olhos) os ditos. Normalmente só se viam os dos autores vendidos com cartazes amvíveis de mais de dois metros e meio, para transmitir a sensação de que eram escritores grandes com'os vencedores de prémios internacionais da crítica acrítica.

Também porque agora, em pleno século XX2 e meio, já só se transaccionavam pequenos animais virtuais que dando menos trabalho ao seu domador, não exigiam mordomias, e aquando do seu desaparecimento por azar, pfft (já está!), já não estavam lá. Mas voltando ao lápis, consta em meios bem informados, académicos no querer, que estaria quase a ser descoberto um sucedâneo...chamar-se-ia caneta. Não teria qualquer relacionamento com objectos des-afiadores. A bem da causa. Vamos investigar de que se tratará e voltaremos à janela. Ainda este serão.
38 de NuBendro de XX2 e 1/2, madrugada

Monday, November 14, 2005

DIA DE CHUVA EM NOITE AZULADA

Aguarela: Paisagem desconstruida - (Brevemente em exposição na Livraria Italiana)
(shiuuu! não é para desvendar ainda)

As Gotas da Vontade

Olhando pelo canto do cisne para o céu, vejo que as estrelas se recusam a aparecer. Não querem ver o que se passa cá por baixo. Pelo menos assim me explicou o Mestre-Professor numa das sua argutas e flautinosas análises piramidais de hora a hora. Inconformadas visões de mundos ainda não inventados, crónicas de escrutínio e mal-fazer, autênticos tratados de bem tratar o seu a seu dono (de tudo).

Não me fiquei, e telefonei às gotas da chuva, intemporalidade é o segredo do sucesso das conversas via estratosfera, apanhei uma linha cruzada, e consegui, a muito custo, (de chamada de valor acanhado), entender:

- Vê lá tu oh gotinha mais velha, que já estás a caminho de uma folha de pessegueiro, que agora até as luzinhas nas ruelas terreais fazem fosquinhas mais cedo!

- Bem vês amiga gotinha mais nova. O comércio anda triste, não se percebe... estádios e estádios, e estados e estados de almas, mas sempre cheios de seres , a abarrotar. Os terreais não lêm muito mas enchem-se estádios, para onde caminham com mais antecedência que nós que vimos de lonjuras e calcorreamos atmosferas plenas de feras. Atropelam-se para conseguir um pedacito de papel e amontoam-se.

- Sentirão frio? Coitados dos terreais...

- Mas para o ano já se espera para mais cedo uma campanha iluminada, de Natal, em Agosto.

- Compreendo os dias são mais longos e assim os terreais vão pelo mais poupar energias electros.

- Não há maneira de, nós as gotas de água, que asseguramos uma ponte estrato-terrestre-de- comunicação-não-virtual, sermos com-pensadas pelo nosso esforço. Viajamos de nuvem em nuvem, e os terreais andam de pássaros voadores (Nota do Editor: atenção ao próximo texto dedicado a estas aves), aperaltados na sua pompa, note-se não disse pomba, e circustância.

- Olha vamos dormir que a Imperatriz Lua se recolheu aos seus aposentos, aposentada mais cedo, esta jornada.

- Está atenta que amanhã haverá um conto de Natal. (ouviu-se um suspiro)

As gotas encontram-se na ombreira de uma porta, e, unem-se numa única vontade.

THE HAPPY END WILL FOLLOW THE SEASON

Saturday, November 12, 2005

A CIGARRA E O SURF


PEÇA DE TEATRO EM PASTILHA PARA A EXECUTIVA OU O EXECUTIVO ACTUAL

Cigarra:
Surf meu amigo o que fazes em dias de chuva?

Surf:
Calculo a distância que vai da ponta do meu dedo mindinho à Lua.

Cigarra:
E conseguiste aproximar-te do resultado? Ou aumenta a tua inteligência reactiva?

Surf:
A solidariedade não enche o espaço que vai do resto da minha rua ao fim da vontade.

Narrador:
Enganei-me na peça. Podem explicar o que se está a passar? (Arrasta o pé direito, enquanto arruma o seu chapéu grená no bolso da gabardine violeta e ocre).

Cigarra:
Surf e se fossemos ao supermercado comprar umas ideias?

Filha do Surf:
Boa!

Sol, ( encavacado):
Voracidade estonteante esta do narrador.

- A deste narrador, emenda do seu buraquinho de Ponto o Grilo.

Cai o pano, (porque na melhor mancha cai o pano).

O VÔO DA CEGONHA - A FÁBULA VOADORA




A cegonha voltara a ter saudades do seu lar. Mas como uma boa cidadã do mundo não entendia qual dos poisos daria uma boa base. Não uma base de copos de pa-lan-tei, (brandy em chinês falado), mas um lar. E como uma boa cegonha só sabia um roteiro. De Paris!

E de Paris bons ventos, pensava ela, para com os seus não-botões. Cerimoniosa dava a volta, sempre, pelo Canal da Mancha, ou não conhecia que na melhor rota cai a mancha desvairada.

Um rápido à-parte. O novel acordo luso-dinamarquês apontava um só caminho para a sorte. E tinha sido subscrito, em sobrescrito datado mas não assinado, na folha de gingeira.

(A ler em próximos capítulos).

Três estrelas encostadas a um embondeiro, àrvore sempre milenar nas histórias recentes, carteavam com umas folhas verdes, castanhas, vermelhas, num campeonato, inato, de futebol de balão. Bolas de balão atrevidas dançavam ao ritmo do hip hop hip hop hip hop.

(Continua, mas não sobrepôr à história fabular de há pouco. Até dentro em breve!)

O VERÃO OUTONAL - UMA FÁBULA SEM NORTE

O Circo da Vida - desenho aguarelado


As castanhas encontravam-se para uma amena cavaqueira no mátrio da escola.
Ainda acreditavam que se tratava do local ideal para absorverem os encantatórios ares da educação.
De Marte partia uma avioneta carregada de moedas de escudo. Os euros ainda seriam inventados nessa tarde. Se acaso a sociedade o decidisse.
Molière o gato siamês ronronava ao saltitar pelas escadinhas abaixo, quiçá sentindo o cheiro de uma apetecida bebedeira de àgua - mão.
As janelas abriam as suas asas, de par em ímpar. Linda vista se debruçava sobre o Tejo. Esse jardim aquoso, lago da Tranquilidade.
Mas o circo instalara-se com todas as suas tropelias e inúmeros animais de adulação, no pátio da escola. Também.
Estimavam-se castanhas, rebentos das àrvores e membros fundadores do circo. Algo que parecia impossível em pleno século XX2.

(Continua)