Wednesday, June 28, 2006

O Absurdo

Foto de Rui Paiva

O absurdo não é,
O absurdo não é necessariamente,
Nem surdo nem mudo.

O absurdo dá-se a conhecer num contexto,
Dá-se a conhecer num …sem texto,
O absurdo não se vê por aí,
Vê-se por todo o lado,
Ouve-se pelo lado todo,
Estende-se em linha recta de erudição.

O absurdo basta-se a si próprio para ser des-entendido,
Querendo antes…
Virar-se para o poente quando nasce seu sol,
Desfazer sentinelas de fardos sem norte atmosférico
Encher contentores de missangas transparentes.

Eu vi o absurdo,
Ele não me falou,
Estava muito nevoeiro no aparo da caneta…

Texto de Rui Paiva em 28 de Junho de 2006

Wednesday, June 21, 2006

Sinalética do Tempo

Fotografia s/ Caixa de Rui Paiva
"Sinalética do Tempo"


O Tempo Não Existe, Resiste

O Tempo entra em colapso
no momento em que nasce,
Não treme de medo,
Não se aborrece com as mudanças de humor,
Não se atrela a situações incómodas.

O Tempo não rareia
É mentira!
O Tempo é por demais demasiado, mesmo....enorme.
Não é medido,
Porque desmedido!

O Tempo não se importa de não ser conhecido
Não vai ao Mundial das Tempestades,
Não revela majestades,
Não se desvela nas cidades,
Não...

O tempo é o nosso ganha-pão,
Não ganha manteiga, nem fiambre,

e não ganha bolores incómodos.
Não é vegetariano,
mas ajuda muitos vegetativos.

O tempo é a nossa alma,
na flor da pele da sua génese, o tempo enrola-se na sua história
empata o seu próprio tempo,
e empatiza com o tempo que dura um temporal,
no seu modo de raiz do mal.

O Tempo não ama, mas o Amor cultiva o seu tempo,

O Amor tece-se no tempo; num tempo; se a duas velocidades...definha.

O Amor só resiste ao Tempo, se se reconfortar na sua dimensão, novidade renovada, sonhada.

O tempo não se vê ao espelho,
são as nuvens negras que o avisam,
que o informam,
que o en-formam,
das desventuras das massas, de ar, frio...quente...morna virtude.


Há sempre em qualquer família mais longínqua uma nuvem negra.

O tempo não vai em cantigas,
o seu assobio é uma cantiga, urtiga
de desembalar os mais incautos.

O tempo não se esforça nada,
Não estuda para os exames,
Copia a sua matéria,
Decora os horizontes da sua memória desfocada,
e vai pregar partidas para outros azimutes...
(desde o tempo dos primos mamutes).

O tempo não é escasso,
É mentira!
Logo, não é um Bem económico,
é um não-bem imaterial,
logo, não existe de tanto se afirmar...

O tempo ainda não foi à Ópera, (ao teatro e ao cinema),
mas a Ópera já foi do seu tempo,
logo, o tempo é manifestamente in-culto.

O que não quer dizer nada,
o tempo não fala,
e não é mudo,
assim, o tempo é uma invenção do homem,
de algum homem,
de alguém que já não existe
tal como o tempo, ele próprio.

Friday, June 16, 2006

Diário de um Espacionauta na Corte dos Vendavais e Festivais

Entáramos no início da segunda parte da terceira série, etc, etc.

Os Impérios globalizados e Analíticos, IGA’s como eram conhecidos pelos agentes da comunicação, haviam entrado num impasse.

Os Agentes da Acção Pacífica, AAP, já não conseguiam andar mais do que três -3- metros mercê do peso do seu equipamento, que se multiplicara por dezenas de armas e anti-armas e para-armas e outras-armas. Par o efeito traziam um sofá individual camuflado e insuflável num das suas “pockets” aladas.

Os políticos eram ainda muitos, talvez da ordem dos seis -6- o que fazia a cabeça em àgua, (insalobra), aos populares que ainda exerciam de pleno direito, e peito cheio, o seu haver cívico, da votação com voto real: tecla verde, dois dígitos à esquerda e dois passos em frente entoando as 123 primeiras estrofes do hino global que começava: Viva a Globali-trálálá, trá-lá lá….


Também no desporto, se constatara uma transição para o desconhecido, assaz tumultuosa, radical, mesmo, diria um amador destas artes do campo, atingira-se mais depressa que o suposto o estádio da saciedade sem claques.
Os golfistas apuraram a raça dos golfinhos e ensinaram-nos a manejar com mestria os apetrechos respectivos, (não sei quais…não sou greenista).
Os futebolistas, adeptos da Tebolia, parente rica da família Fu, inventora não oficial do jogo que juntava num só campo 368 jogadores, todos com as suas xuteiras de arame, bolas de jornal, (volto a explicar que estes objectos desapareceram quase que por encanto quando os agentes comunicacionais assumiram por inteiro a sua tarefa de escritores a tempo e têmpera…
O ténis era uma modalidade híbrida entre o muito antigo ping-ping e o mais recente pong-pong.
A equitesticão, em que os grilos gigantes enquanto cantavam saltavam das costas de elefantes miniatura para as trombas de felinos de inteligência média, estava ainda nos primórdios da primeira geração de líderes.

Os depurados da Nação e Desinteresse Político-Institucional, NDP-I, pacientes e desmotorizados reformatizados, (reforma com direito a climatização da sua sombra da papaeira respectiva), viviam nas suas naves espaciais, mantidas em espaciarinas criadas para o des-efeito.

A agriculticumpunctura, técnica acelerada de acupunctura nas espécies artificiais de vegetação não verde, (também não madura, mas o que se pode fazer, não é?), ganhara foros de moda. Furtiva e Lobos deixara de dês-estilizar as vestes dos nacionais e dos seus pares imi-Grados, des-portistas e outras personas in-gratas e grati-nadas.

A In-dus-tria-dos, passara a Out-dústia, mais virada para o umbigo externo da esfera ex-celeste.

O estádio terciário, o longo aviário de ser-vicios, fora finalmente extinto malgrado a ve-gre desencadeada por terrenos e marcianos, num estádio de Pop-Rock civilizacional mantido desde os finais do século passado.

Já só a Cultura se elevava de pra-t’Amar em pra-t’Amar, de estádio em estádio, cobertos…


(continua)

Thursday, June 15, 2006

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA DE RUI PAIVA




Hoje pelas 21:30 Inauguração da Exposição de Rui Paiva no Baiuka Bar, sito na Praia das Moitas, Monte Estoril.

A exposição "Viajante numa lágrima de chá" vai estar aberta de 15 a 28 de Junho de 2006

Tuesday, June 13, 2006

No Mundo das Cidades Luminosas - Século 23 -A

Texto Automático e
Aguarela de Rui Paiva
13 de Junho de 2006



No Mundo das Cidades Luminosas

As fontes antigas ainda se lembram dos tempos em que cediam a bel-prazer águas transparentes, (que nem os seres humanos conseguiram beber alguma vez na sua vida), águas doces, águas puras.

Agora as fontes da história, secas de notícias, secas de factos ficavam-se pelos seus encantos de pedra.

Os seres humanos haviam des-afectado a sua vida da Terra. Isto é, deixaram de atender ao Mundo dos Afectos.

A data não enganava: século 22.

Agora, quando referencio mentalmente esta nov-Idade, estamos em pleno século 23 - A e os humanóides desapareceram da civilização terrestre, emigrando em catadupa organizada para outros planetas entretanto descobertos onde o Planet Governance, (não se pode traduzir, mas diziam ser importante chavão da distante Terra, relevante caderno de encargos e decifrações para uma vida em sociedade e saciedade), se sobrepunha a todas as intenções e desejos mais remanescentes dos mesmos.

A sua vida orientava-se por princípios localizados no Planet Ordinance, (sem tradução possível), e a sua comunicação já se dava por via do p-mail, uma nova forma de liam com a vantagem de ser controlada pelo cérebro do utilizador, dispensando computadores e outros utensílios entretanto transformados em gigantescas obras de arte performativa. Porque se deslocavam em grupos, deambulando pelos actualizados jardins de cimento.

Cimento pintado, por vota dos anos 90, de verde.

Reminiscências de tempos idos em que a natureza se não queixava.

(continua)

Margarida e Joaninha voltam à Cidade Luminosa

Texto Automático e
Aguarela de Rui Paiva
13 de Junho de 2006
O Encontro das Duas Amigas
Eis senão quando na Cidade Luminosa do Hemisfério Central, bem próximo do centro da Terra, novo Império do Meio da Humanidade, se denota uma actividade, calma, colorida.
Margarida e Joaninha eram duas amigas, princesas do mundo das espécies existentes.
A primeira uma flor, a segunda uma pequena espécie voadora.

Podiam, perfeitamente , ser duas pré-adolescentes de 11 e 10 anos de calendário.

Encontraram-se numa tarde de encanto, num con-domínio citadino, deliciando-se com uma piscina de vento, o seu local de desporto e lazer.

Voando em círculos cada vez mais azuis, seguindo a técnica apurada das voadoras diurnas, descreviam arcos de intensidade e beleza só ultrapassados pelo feixe de luz solar, que, a muito custo, lograva escapar-se entre prédios e pousava sorrateiramente num banco de jardim, (de cimento verde!),nunca aí ficando mais de 12 segundos.

(continua)

N. do Editor: os textos são propositada-mente curtos para que sejam lidos.

Friday, June 02, 2006

Ilha Natureza, Encantada Vocação


"Ilha Natureza, Encantada Vocação"
Aguarela de Rui Paiva
Maio de 2006


A Memória Verde de um Feto Não se esconde, Mais do Que se Revela, Na Sua Pele
Viajar por Amor ou a Atracção pelo Talvez


Voragem do tempo,
Na memória de um feto gigante,
(Em pensamento compra-se um lamento),
Correrias loucas de insectos perdidos no sentido (proibido) da sua vida pequenina...enorme no saber.
Grandes viagens num espaço que se intromete nas razões de um futuro incerto...
Nada vale mais do que o verde da alma de um pinheiro bravio, manso na sua solidão...
Memória do espaço na nuvem da ilusão que se perde de amores pelo incerto, certo na incerteza, e só!
Como dói a escassez do encontro. A Inexistência do desencontro. A certeza do talvez.

O talvez é a violência...insolência sem porte, nem porta, e nem nasce torta....a paz.
O acaso é a outra face da moeda, antes a outra fase, abismo emocional, tanto mal...

Amores que se constroem na vertigem do nada, do talvez ou do até.

Dos encantos. Nos cantos do... Nos desen«cantos».
Com ou sem desacatos, com ou sem cactos, ou actos.


Nas curvas dos caminhos não há sinais que resistam às intempéries da solidão.

Mesmo que, a imagem, se insira numa paisagem onde mil e um verdes se encadeiem numa canção de Primavera.
As estações não se fazem só de uma matéria abstracta. Como os cactos. Nem de uma vontade concreta. Nem de um destino. Nem de um desatino.


As estações nascem e morrem de tédio.

O Amor nasce numa aragem....voa e metaforfoseia-se numa ventania... tornada...tornado, ou nem por isso.

E aí...pela negativa, esventra-se a vontade e desfalece a coragem do ser, en-cenando o receio, sem medo.


Sabemos e sentimos,
Como os amores em duas dimensões se implodem no desencanto.
As pessoas que sub-voam os mosquitoas sentem-se mais elevadas que esses seres, inteligentes. Os mosquitos.


[Quando os sábios e cientistas descobrirem que estes seres microscópicos desenvolveram a sua mente ao longo de milhões de anos, desaguando, no presente, nos suaves bombardeiros, desviados candidamente para missões de (ra-)Paz....]...

Certo, só o mas!
São eles, insectos, os ilustrados, os informados, os raros sonhadores.
Seres que riscam os ares em rumos definidos pelo Tempo. São o último vestígio do Amor.
Que dançam sem parar, que dançam sem rimar, que dançam para o seu par.

Texto de Rui Paiva
Não é autobiográfico. Podia ser. Pode ser. Se estivermos Agora, em 2054.