Sunday, February 26, 2006

A Dança da Alegria e a Serpente Serpentina

In " Cadernos de Miraflores"
No Carnaval de 2006
Aguarela de Rui Paiva

A Dança da Serpente Serpentina

A Natureza mascarou-se,
Vegetação de geografia destemida,
Numa vivacidade sem reparo, nem aparo,
Re-vestindo-se de um manto, sem pranto,
De Alegria e desplante,
Colorido gesto,
Na superfície das vozes,

Das Folhas sussurrantes.

Vem a serpente Serpentina,
Gracejando com o Vento,
Seu hábito de desde antes de o sonhar,
(O sonho é a reposição da Realidade que se esconde na noite da vontade),
Dançando ao com-passo das suas ondas.

Vindo do passado,
Sem rasto nem honra,
Superando o seu trágico andar,
Encontra seu Amigo,
(No tempo em que as árvores sonhavam, havia ainda Amigos),
Cama-leão de seu nome,
Sem rugir,
Mas denotando seu bom gosto - de estilista - no Vestir.

Desse encontro,
Se descartam as crónicas,
Radiofónicas e outras,
Escondidas estas na sombra do éter,
Mas um cronista atento,
Ouvindo sua história,
Assim discorreu…

"Se a Natureza alegre,
Não acolhesse espécies tão honradas,
Não haveria paz nem pão na Selva",
Cantavam grilos arrumados num Coro,
Trapeziando-se pelas espigas inexistentes.


Tuesday, February 07, 2006

A Neve Veio Visitar-nos Mas Deixou-nos A Sua Sombra

Foto de Rui Paiva
Fevereiro de 2006





A neve veio, inadvertidamente, visitar um país. E que país.
Na noite estalou a bomba, qual panxão (escreve-se panchão...mas o estrondo foi tal que de pouca dura, mas madura, enxofrisse).
Constava que havia uma Ópia, (sim ópia, está bem escrevinhado), de Marte, sobre este país que de impossível tinha tudo. No seu lugar. Pegar ou alargar...
Uma ópia? E de noite? Hostil ainda por baixo? Bom mas ainda não era hostal. Persupuesto...
Veio a neve, ia dizendo em voz baixa, não fossem as estrelas ouvir, e as estrelas que nos rodeiam não gostam de ser observadas, nem regaladas nem superadas.
Veio a neve, afinal, e no princípio de tudo, para demonstrar que os seus afectos já gelam de tanto esfriarem...como o défice de outras vertentes que não financiosas, falaciosas e e-comodatísticas, ou como ora se escreve em contemporaneidade de pensamento: economodatícias.
Ainda não? Bom lá estou eu a precipitar-me no precipício do espaço siderado.
A neve, tal como veio, escapuliu-se pelas ranhuras do tempo. Pelas frestas das arestas. Sem festas.Nem bestas. Que são funestas. Nas suas festas. E nas suas florestas, que se desenganem. Não neva, quando essas criaturas, que não aturas, se tra-vestem da voragem do limão, em golpe de mão.
Mas, a neve, deixou-nos imensos seres que se não observam a olho nu. Vistam-se os olhos e a visão de sabor nocturno, (que deslumbramento!), permitirá telescopizar esses destoutros "OBI's". Os ainda chamados: Obviamente Bem Irradicados.
A luz vertida em sons da musicanidade na noite.

(Versão de 8 de Fevereiro de 2006, de um texto, escrito a quente, na noite fria, e terminado às 23 horas e 38 minutos e 18 segundos e 13 primeiros)

Sunday, February 05, 2006

A Pedra da Calçada Conta a Sua História - II

A pedra da calçada apresenta-se numa pose de modelo. De modelo de virtude. De mistério não correspondido. De ex-cêntrica num mundo de pedras perdidas. De uma pedra-da nova, fora do charco. De uma pedra que se destaca por se destacar, por não atacar, por não atracar, por não ser de estaca. Por ser ela própria. A pedra da calçada, ela mesma. Ei-la, e mais não disse.

Friday, February 03, 2006

A Pedra da Calçada Conta a Sua História

Num país simbólicamente apelidado de país, uma pedra da calçada apresentou queixa na municipalidade local por violência concertada.
A municipalidade ficou deveras desconcertada.
A pedra da calçada, descalça de argumentos, recusa-se doravante a ser submetida a pressões inusitadas, nesta vaporosa praia lusitana, o que se torna uma notícia de abertura dos tele-jornais na pacata cidade onde reside desde tenra idade... a pedra da calçada.
Massa tenra em pastéis é a surpresa desta empresa vulnerável, em frente da qual a pedra da calçada reside desde a sua alegre adoles-ciência.
A pedra da calçada pretende tão só na sua acção interposta num quiosque bem perto de si, uma reparação...falta-lhe uma lasca. Uma escada que derrapou na sua geração, consta na leitaria da esquina. Que coisa...
Uma bota de fino aparo, não d-escreveu bem a sua curva e des-lascou a pobre pedra, calada, e não calçada.
A pedra da calçada foi aconselhada a jogar na sorte da sua vida, euro-animando-se quiçá, nas solas do mundo. Vai daí desata a gastar superfícies para conter nesse sonho toda a sua vontade de ganhar o prémio da sua consolação...
A visão da pedra da calçada não será a melhor...mas não reclama para si, patamares de outra visão supostamente mais elevada...na realidade nem sempre quem está mais alto vê melhor. A pedra da calçada conhece quem esteja bem alto mas que sofra de falta de visão...malditas vertigens...
A pedra da calçada é uma apoiante de sempre das romarias das Marias às rias. No fundo lodoso das rias a pedra da calçada não viveria. Não veria. Não ia. Não. N. .